OS REIS DA CIDADE NOVA

19/02/2011 16:29

  

Os Reis da Cidade Nova

 

Autor - Paulo Sérgio Alves Fernandes

 

2008 – 2011                           Parte: 1

Observação: Essa é uma comédia que eu estou escrevendo para publicar quando tiver condições. Enquanto isso, espero que curtam.  ACESSEM O SITE: Continua...   www.osindutores.wenode.com.br

 

 

 

 

 

A LOJA MODA DE ELITE

 

    Pedro e Maria, naturais do estado do Ceará resolveram se aventurar em terras mais férteis, queriam sentir os ares de um estado diferente. À princípio conversavam intensamente sobre a possibilidade de mudarem para São Paulo, vários conhecidos haviam ido para lá, e a conversa que se ouviam era o quanto fulano de tal melhorara de vida.

    O irmão de Pedro que residia em São Paulo capital, queria que ele fosse sozinho, depois de conseguir trabalho e alugar uma casa poderia, enfim buscar a família. Ficar longe da família seria sacrifício excessivo. Minha família eu não deixo por nada nesse mundo, dizia Pedro desistindo das terras mais longínquas. Encontraram o lugar perfeito no interior sergipano, município de Estância, no bairro Cidade Nova. Conseguiram alugar uma casa de pau-a-pique, três quartos, cozinha e um banheiro. O chão da casa ainda era de terra, o quintal espaçoso e ocupado por uma belíssima horta. Sem falar num frondoso pé de laranja e outro de acerola que ofereciam frutas às fartas. A residência se localizava na rua do Açude, à esquerda da igreja católica, era a última casa da rua, quase vizinha ao campo de futebol local. Os genitores, Pedro e Maria pessoas simples e de pouco estudos, tinham sete filhos, seis homens e uma mulher.  Nessa família todos os filhos homens haviam ganhado de presente os apelidos mais bizarros possíveis. O filho mais velho era conhecido como Caçote. De beleza não tinha nada, na escola era sempre motivo de zombaria, tanto que desistiu de estudar na quinta série do ensino fundamental. Caçote já passava dos trinta e dois anos, era um tipo esquisito, meio desengonçado. A falta de estudos e de beleza era super compensada nas muitas armações que o mesmo vivia praticando. Trabalhar só se fosse na roça e muito de vez em quando, uma vez que a fonte de renda principal da família era a aposentadoria que seu Pedro recebia. Seboso, o terceiro irmão em idade, 16 anos, tinha um carrinho-de-mão e pegava carrego de domingo a domingo, seis dias por semana na feira do centro nas imediações da praça principal e durante os domingos ali mesmo na feirinha do bairro. Lucinha tinha 17 anos e era a mais adiantada em estudos da família. De tão graciosa, Caçote sempre dizia que Deus havia caprichado demais nela e estragado os filhos homens dando-lhes feiúra em excesso.    

    - Bênça, minha mãe; bênça, meu pai! Os pais na cozinha tomavam café com bolo de fubá.

    - Abençoe, falaram os dois quase ao mesmo tempo. Em seguida Lucinha subiu à rua indo no sentido da rua Zeca do Forte para pegar a lotação. Encontrou Caçote por acaso, os dois pararam no ponto de ônibus para conversarem. - E essa princesa, pra onde vai? - Ah, meu irmão, sabe que a loja Moda de Elite vai abrir uma filial no centro. Eu não perco essa oportunidade por nada neste mundo. Vou levar um currículo. A loja é promissora. Além de pagar um bom salário tem participação nos lucros. É uma das melhores lojas de roupas importadas do país. - Maninha se depender de sua inteligência uma das vagas já é sua. - Quem sabe depois que eu pegar moral na loja, eu não consiga um emprego pra você... - É você fazer isso, disse Caçote em tom sério, e eu entro na justiça pra não ser mais seu irmão. Lucinha riu, já esperava tal resposta. - É, eu vou tentar, não custa nada mesmo. Deve vim gente de tudo que é lugar pra tentar a sorte. Observou uma lotação, o motorista fez sinal que estava cheia. Vem outra, a outra lotação parou, Lucinha entrou se despedindo dando tchau, Caçote subiu em direção à quadra queria ver a molecada jogando bola. Lucinha observava o movimento do microônibus, gostava de viajar mesmo que fosse para pertinho como no centro. Adorava sentir o vento tocando-lhe o rosto. Estância neste ponto é privilegiada, um município litorâneo, brisa permanente, mesmo no calor mais abrasivo a brisa teima em soprar como um hálito refrescante e divino da mãe natureza. A lotação seguiu na avenida Jornalista Augusto Gomes, depois entrou rumo à Camilo Calazans. Lucinha segurando uma pasta transparente de plástico duro, nela continha as cópias de toda documentação, além de currículos e mais currículos. A possibilidade de trabalhar na Moda de Elite era um sonho ambicioso. Queria ajudar a família comprando a casa onde residiam e o passo seguinte seria refazer a casa toda de alvenaria. Ah, a família, eram humildes, mas se divertia demais com os irmãos, um mais palhaço que o outro, engraçadíssimos, os pais era outro show à parte. Ria só de lembrar que Caçote repetiu a primeira série cinco vezes, e desistiu de estudar depois que repetiu a quinta série do ensino fundamental outras cinco vezes. Não nasci pra estudar, maninha, os miolos esquenta e eu tenho vontade de sair mordendo aqueles filhos de uma égua dos professores que teima em ensinar coisa que eu não me interesso em aprender! O primeiro passo seria deixar uma cópia do currículo na loja, assim Lucinha concluiu a primeira etapa. A segunda etapa seria mais para a frente, a proprietária da loja iria escolher entre alguns milhares de currículos, reduzindo-os às 150 melhores e mais bem preparadas candidatas. No final, eram apenas 12 vagas na área de vendas. Relaxada do dever cumprido, Lucinha parou de frente a igreja da Matriz, comprou um picolé de murici e ficou pensando na vida, sentindo o vento buliçoso exaltando o aroma das árvores da praça Barão do Rio Branco. Hum... Estância reflete o cheiro ancestral das florestas intocadas pelo humano e ao mesmo tempo exibi-se, apesar da reduzida população, como uma pequena Babel. Povos diversificados, culturas diversas e a tecnologia povoa este maravilhoso Município. O movimento da praça era normal, gente caminhando de lado a lado procurando dá seguimento a vida. Dois rapazes passaram bem próximos de Lucinha, bem vestidos, vestidos demais para um lugar tropical, devem estar trabalhando pensou ela. - Moço, falou Lucinha apanhando a carteira de um deles que acabara de caí no chão. Os dois rapazes interromperam a caminhada. - Hum?! - Você deixou caí esta carteira! Toma! O jovem ergueu os óculos escuros e fitou-a extasiado de súbita paixão. A boca entorpeceu de desejos e por alguns instantes teve a nítida impressão de tremer o chão. Aproximou-se elevado por algo superior, coração acelerado, sentiu-se tocado pela flecha do travesso arqueiro. Uma áurea de insegurança e bondade o dominou mansamente. - Brigado! Qual seu nome? - Lucinha!  Sentiu-se atraída, acanhou-se. Engoliu saliva, queria o melhor tom de voz. Preocupou-se com os cabelos, talvez não estivesse bem penteados. Alisou os cabelos com a mão direita. Tentou conter um impulso forte de sorrir, declarar-se apaixonada por ele. Precisava se conter, recuperar o domínio da situação. Respirou pausadamente enquanto o jovem conversava. - Sou Diogo. Fixando-a intensamente. Qual seu nome? - Eu já disse, Lucinha. - Ah, Digo , vou indo, disse o amigo apressado olhando para o relógio de pulso. Diogo não deu a mínima, o outro se foi. - Brigado mesmo, retomou os ares normal, aqui tem talhão de cheque, cartões, documentos, se eu tivesse perdido, não sei o que seria de mim. Como posso fazer pra te agradecer? - Não precisa agradecer, não, moço, não me pertence, minha obrigação é devolver ao dono. - Me permita pelo menos pagar um sorvete, senão eu vou ficar magoado. Aqui pertinho tem uma sorveteria, é cada sorvete melhor que o outro. - Hum! Então, tá! Não tinha mais nada para fazer mesmo, Lucinha resolveu aceitar

 

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